É totalmente compreensível ser contra o Uber. Pelo menos até entender de verdade o que o Uber representa. O mundo está mudando – e rápido. A uberização da economia é uma realidade e já assustou outros mercados.
O Airbnb assusta os hotéis, o Netflix assusta a mídia e o Whatsapp assusta as empresas de telefonia celular. Mas da mesma forma que o rádio não matou o jornal, a televisão não matou o rádio e a internet não matou a televisão, a economia uberizada não vai matar os táxis, os hotéis, a mídia ou as empresas de telefonia. Só vai mudá-los.
O problema é que mudar é sempre assustador. Significa novos hábitos, novas pessoas e novas tendências, mas quando se trata de inovação, mudar é sempre positivo.
O Uber não vai acabar com os táxis
Primeiro, o Uber nem sempre compete com os táxis diretamente .
Segundo, o Uber não atende a todo o mercado.
Terceiro, os taxistas tenderão a melhorar o serviço para competir com o Uber, ganhando parte de seu mercado de volta.
Existem várias evidências de que o Uber nem sempre compete diretamente com os táxis. O Uber Black, por exemplo, é mais caro que o serviço de táxi. Isso indica que alguns consumidores decidiram pagar mais para usar um serviço de transporte.
Essa faixa de consumidor com certeza não representa a maioria da população, essas são pessoas que já tem smartphones e não ligam em pagar mais caro para andar pela cidade, muitas vezes abandonando seus carros nas garagens para usar o Uber, ou seja, são consumidores que nem sempre prefeririam usar um táxi a seus carros.
Outro ponto: o Uber não atende todo o mercado. Para se usar o Uber você precisa de um smartphone e menos de 30% dos brasileiros tem um, ou seja, em 70% dos casos, o Uber não vai atender o mercado dos táxis. Claro que esses números disfarçam a realidade, já que em cidades grandes mais pessoas usam smartphones.
Contudo, existe ainda mais um fator pra defender essa hipótese: o Uber não é público. Não se é possível sinal e parar um Uber na rua, mal se consegue identificar um Uber na rua. Esse tipo de uso ainda é totalmente deixado aos táxis.
Terceiro e último ponto: competição. Talvez isso seja o mais importante. O que acontece quando uma pessoa nova entra no mercado e rouba seus clientes? Você melhora seu serviço. É natural, quase instintivo.
E ao melhorar os serviços, os taxistas também vão ver o que há de mais natural no mundo, novos clientes. É um pequeno desafio, sem dúvida, mas todos ganham com isso no final.
Mas a competição entre o Uber e os táxis é desleal?
Talvez.
A primeira coisa a ser observada aqui é que taxistas tem uma série de descontos em impostos que os motoristas do Uber não tem, mas isso não conta a história toda.
Uma coisa deve ser dita em defesa dos taxistas: o mercado de táxis é extremamente regulado e os taxistas são obrigados a obedecer a uma quantidade enorme de burocracias que criam ineficiências de ponta a ponta em seu mercado.
Eles são impedidos de se diferenciar e vivem no pior dos dois mundos, são agentes privados vivendo sob o monopólio imposto pelo governo municipal. Monopólio tão ineficaz que não gera ganhos nem pros próprios taxistas, já que os preços são fixados e muitas licenças de táxis pertencem a um número pequeno de pessoas, concentrando o pouco de lucro que os taxistas tem.
A questão é que a solução não é impor ao Uber as regulações ineficazes que oprimem os taxistas. O que o Uber provou é que indivíduos conseguem livremente escolher o serviço de sua preferência.
Os motoristas do Uber livremente escolhem se vincular à empresa e os usuários livremente escolhem usar o serviço. E o Uber nem sequer é a única empresa fazendo isso, em outras países já existem outras empresas que oferecem o mesmo serviço e existem rumores de que até o Google tenha planos de entrar nesse mercado.
A luta não deve ser contra o Uber e sim contra a ineficiência.
Quem impede os taxistas de inovarem e competirem é a regulação ineficaz. Logo debate não deve ser a favor de mais regulações ruins, mas sim a favor de menos regulações ruins. Com menos interferência, o mercado de táxis vai poder crescer e competir, beneficiando não apenas o consumidor, como os taxistas também.
Escrito por Bernardo Vidigal.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões.