Escrita em 1943, A Nascente, livro da escritora russo-americana Ayn Rand, se consagrou, apesar de não ter feito tanto sucesso quanto ‘A Revolta de Atlas’, como uma das obras mais notórias da escritora.
Mesmo podendo considera-lo como mais um romance filosófico (escrita típica de Rand) o livro aborda as ideias randianas de maneira mais sutil, por meio de nuances comportamentais e algumas falas dos personagens — diferentemente da Revolta de Atlas que, em determinada ocasião, há uma transmissão de rádio com mais de 100 páginas com puro aspecto filosófico.
Enredo
O enredo da história se passa, majoritariamente, na cidade de Nova York — entre 1920 e 1930. Apesar de sua época mais antiga, como todas as obras de Ayn Rand, a história é tão atual quanto quando fora escrita. A Nascente, mesmo abrangendo a filosofia de Rand, é, mais que tudo, um romance sobre um herói, evidenciando ainda mais a influência dos heróis cinematográficos dos Estados Unidos sobre o pensamento da autora desde criança.
Todavia, o grande protagonista heroico dessa obra é Howard Roark — um jovem arquiteto que deve descontruir barreiras e lutar para garantir o seu próprio lugar e o de suas ideias no mundo, tentando garantir seu sucesso por meio de seus próprios ideais.
Onde se passa
A história começa com Roark, nos seus 21 anos de idade, sendo expulso do Stanton Institute of Technology por insubordinação — os membros e professores da faculdade admitiam a genialidade do aluno porém exigiam que ele desenhasse projetos arquitetônicos no tradicional estilo clássico, predominante na época, mas Howard tinha seus próprios conceitos sobre como a arquitetura deveria ser, indo totalmente contrário com o que lhe era imposto.
Do outro lado, Peter Keating, um colega de classe e filho da dona do pensionato em que Roark mora, segue obedientemente as ordens de seus professores e é graduado como número um da turma, mesmo jamais sendo brilhante e amando a arquitetura como Howard Roark.
A partir desse ponto, é preciso compreender que Rand criou uma distopia (o que não é nada novo em seu trabalho, apesar de não ser uma condição tão grave quanto em ‘A Revolta de Atlas) no qual a arquitetura estava presa ao passado — a construção do estilo clássico. Qualquer ideia nova, que fosse proposta apenas com o intuito de ser prática por si só e desrespeitar os ideais clássico como colunas dóricas e jônicas era imediatamente rejeitada pela sociedade.
Após a expulsão do Instituto, Howard Roark segue com seu sonho e sua verdadeira paixão por arquitetura e vai à Nova York, procurando por Henry Cameron — um velho arquiteto, porém um gênio, cujas ideias estavam a frente de seu tempo.
Desenrolar da história
Apesar de toda sua genialidade e brilhantismo no desenvolvimento de projetos arquitetônicos, projetando construções práticas e eficaz, a sociedade da época, presa à imutabilidade dos ideais, passa a rejeitar as ideias de Cameron e o torna em um gigante fracasso comercial — no início, todavia, com o alvoroço resultante de seus projetos radicais, ele fizera muito sucesso.
Roark sempre se inspirou em Cameron e deseja trabalhar com ele, independente das péssimas condições financeiras.
Do outro lado da história, Peter Keating segue carreira numa renomada firma de arquitetura de Guy Francon — um mero arquiteto que apenas copiava os designs do passado e jamais inventara algo novo e, justa e infelizmente por isso, se tornou famoso na cidade.
Keating cresce na empresa por meio de manipulação dos funcionários, de maneira oportunista e desonesta, sem amar realmente a profissão muito menos agir de maneira ética. Estava aprendendo conforme Francon ia lhe ensinando: apenas o mau caráter e nada sobre maneiras eficientes de construir.
Com o desenrolar da história, Roark acaba por desenvolver alguns projetos que, de fato, chamam a atenção pela exclusividade e novidade, porém acaba enfrentando imensas dificuldades ao longo de todo seu caminho até o estrelato. Já, Keating, por meio de suas artimanhas e sem nenhuma paixão feroz pela arquitetura, brilha no meio da mediocridade que dominava o ramo e acaba se envolvendo com Dominique.
Dominique, filha de Francon, uma idealista que acredita no forte potencial da humanidade porém, ao ver a mediocridade em que o mundo estava imerso, acaba se tornando decepcionada. Os três personagens constroem um intenso e curioso triângulo amoroso.
A ideia central da obra
Ayn Rand nos surpreende e promove uma reflexão ao longo de mais de mil páginas. Ao passo que construiu um personagem completamente dentro de seu conceito de heroísmo e aquele que ela mais desprezava. Rand veio de maneira desafiadora defender uma ideia central que gira em torno de todo o livro: a importância do ego e da autoestima humana para o nascimento do progresso humano — e justamente esse é o motivo do título do livro: “A Nascente”.
Esta resenha foi elaborada por Vitor Nagai, coordenador do SFLB e publicada originalmente no blog do Resenha pra Mim. Contate Vitor pelo e-mail [email protected].
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões.