Um pequeno guia para Hannah Arendt: quem foi, banalidade do mal, totalitarismo

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Quem foi Hannah Arendt? 

Hannah Arendt, com nome de nascença Johanna Arendt, nasceu na Alemanha em 14 de outubro de 1906 e morreu nos Estados Unidos em 4 de dezembro de 1975. Estudou filosofia na Universidade de Heidelberg formando-se em 1929; teve como seu professor Martin Heidegger, com quem também teve um relacionamento amoroso.

Entretanto, durante a ascensão nazista capitaneada por Hitler perdeu o direito de cursar universidades e foi expulsa, com a crescente perseguição aos judeus ao longo da década de 30 na Alemanha, Hanna foi encarcerada e decidiu-se emigrar do país assim que conquistou sua liberdade. Essa decisão tornou-a apátrica até conseguir a nacionalidade americana em 1951. Hannah Arendt é considerada um dos mais importantes nomes da filosofia do Século XX. Hanna foi uma filosofa política alemã de origem judaica, consagrando-se uma mais das influentes do século XX.

Por que Hannah Arendt é importante? 

Arendt defendia um conceito de “pluralismo” no âmbito político. Ela acreditava que com esse pluralismo uma potencial liberdade e igualdade política seria gerada entre as pessoas.

Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime.” – Hannah Arendt

Arendt ressaltava que para assumir a responsabilidade política deveriam estar presentes pessoas adequadas e dispostas, já que elas seriam responsáveis pelos convênios e leis que toda a sociedade deveriam se submeter. Com isso defendia um sistema de democracia direta ou um sistema de conselhos.

Bolsa de Estudos e seu interesse por questões políticas

Ela obteve uma bolsa de estudos na Notgemeinschaft der Deutschen Wissenschaft ( Associação de ajuda para a ciência alemã) com uma tese sobre a obra de Rahel Varnhagen. Paralelamente a isso, Arendt começou a se interessar por questões políticas.

Analisou a exclusão dos judeus e em 1932, publicou na revista Geschichte der Juden in Deutschland (História dos judeus na Alemanha) o artigo “Aufklärung und Judenfrage” (“O Iluminismo e a questão judaica”), no qual expõe suas ideias sobre a independência do judaísmo.

Ainda em 1932 escreve uma crítica do livro Das Frauenproblem in der Gegenwart (O problema da mulher na atualidade) de Alice Rühle-Gerstel, no qual comenta a emancipação da mulher na vida pública.

Insiste que as frentes políticas são “frentes de homens” e, por outro lado, considera “questionáveis” os movimentos feministas, assim como movimentos juvenis, porque ambos – com estruturas que trespassam as classes sociais – tem que fracassar em seu intento de criar partidos políticos influentes.

Em julho de 1933 ela foi detida durante oito dias pela Gestapo. Já naquele ano Arendt defendia a postura de que se devia lutar ativamente contra o nacional-socialismo. Ao contrário dos filósofos alemães da época, entre eles alguns judeus, e isso gerou uma repugnância da parte de Arendt, que os considerava oportunistas ou mesmo entusiastas.

Eichmann em Jerusalém: a banalidade do mal

Em seu livro sobre o julgamento de Adofl Eichmann, do qual surgem as reflexões sobre a banalidade do mal, Arendt crítica duramente judeus colaboracionistas que se utilizavam do argumento de que isso diminuiria a perseguição.

Hannah Arendt é convidada para acompanhar o julgamento de Eichmann em Jerusalém, um oficial da SS incumbido de organizar a logística para a “solução final”, plano nazista para exterminação dos judeus na Alemanha e nos territórios ocupados. As reflexões se baseiam na observação e percepção sobre o quão “comum” seria Eichmann, pois a todo momento se defendia dizendo que estava apenas cumprindo ordens. 

Em sua reflexão, Hannah adentra que Adofl Eichmann era desprovido de um senso de pensamento crítico, no sentido do mesmo não questionar e não conversar consigo mesmo.

Partindo daí a ideia de que sociedades que desde sua formação, isto é, dos primeiros contatos sociais (família, escola) aprofundam um senso de plena obediência são suscetíveis a cair na graça de regimes totalitários. Hannah pressupõe a liberdade de pensamento, definindo que “abdicar de pensar também é crime”, como está presente na epígrafe que abre este guia. 

O mal é considerado assim não mais como algo surpreendente, fruto de mentes doentias, mas como um aspecto da sociedade, onde os comuns o praticam. Arendt argumenta que existiam vários como Eichmann, que não viam maldade em suas ações, pelo contrário, encaravam com a naturalidade de quem toma café da manhã. 

Arendt e o totalitarismo

Outro ponto bastante famoso de sua obra está contido na ideia do totalitarismo. Em seus livro “As Origens do Totalitarismo” Arendt busca conceituar essa novo tipo de governo que na ciência política clássica não encontrava boa definição.

Não sendo nem tirania, nem ditadura, o totalitarismo se caracterizava pela busca da legalidade e uma legitimidade calcada no terror reinante, escolhendo não uma pessoa em si ou um grupo por si, mas sim uma ideia a ser perseguida.

No caso dos nazistas está a ideia de que os judeus, por serem gananciosos, corruptos e marxistas deveriam ser combatidos. No caso da união soviética, a burguesia e tudo aquilo que lembra algo burguês deveria ser combatido. 

É importante ter em consideração que o totalitarismo não tem apenas o uso da força em si como um elemento importante, mas também a aceitação de grande parcela da população que transformada em massa, isto é, desprovida de qualquer resquício de individualidade, autonomia e independência, adere ao regime.

Tendo por base uma forte propaganda estatal que aliena, busca incutir nas mentes as ideias do regime. O totalitarismo se coloca não a serviço do governamente, mas sim de uma ideia superior, advinda da natureza, como a ideia de uma superação da luta de classes que deveria ocorrer ou uma primazia da “raça” ariana que deveria ocorrer.

Não são mais as pessoas, mas eventos tidos como da natureza que agora são protegidos e buscados. 

Totalitarismo é o oposto de liberdade

O totalitarismo é o total oposto das ideias de liberdade por buscar enclausurar o principal agente da liberdade: o indivíduo. Como supracitado, o mesmo não detém mais a capacidade de pensar criticamente sobre seu mundo e sobre si mesmo, torna-se assim uma massa amorfa, supérflua.

Nega-se o aspecto mais básico da vida humana que é sua própria individualidade.

Nesse mesmo ano Hitler assumia o poder alemão e Arendt por ser judia ficou impedida sua segunda tese que lhe daria acesso à docência nas universidades alemães. Seu envolvimento com o sionismo a levava a colidir com o antissemitismo do Terceiro Reich. Com todos esses fatores decidiu por sair da Alemanha.

Em 1963 Hanna Arendt é contratada como professora da Universidade de Chicago, onde ensina até 1967, ano em que se muda para Nova York e passa a lecionar na New School for Social Research.

O trabalho filosófico de Hanna Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência e a condição feminina.

Se você puder ler apenas uma obra

Leia “Eichmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal

Principais obras de Hannah Arendt

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Escrito por Kaike Souza. Editado por Izaias Pedro.

Revisão: Arthur Rezende

Pequenos Guias para Grandes Ideias é uma série educacional do do SFLB de introdução a importantes pensadores libertários. Cada post é escrito para dar aos alunos com mentes abertas, um ponto de partida para aprender com os grandes provocadores e agitadores que contribuíram para as ideias de liberdade.

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