Mais do que “Feliz Natal”: a mensagem na música
Barbara Sostaita | 24 de dezembro, 2014
Estamos começando a ver e escutar muito sobre o Natal. Desde os toques do telefone celular até as estações de rádio, elevadores e centros comerciais, músicas do feriado são tocadas continuamente. Canções populares desta época referem-se a elementos culturais que remetem a esta estação, como flocos de neve, trenós, e a descoberta de presentes debaixo da árvore.
Muitos títulos referem-se aos aspectos míticos do Natal, como Papai Noel; Rudolph, a rena do nariz vermelho e Frosty, o boneco de neve. Caracterizada por arranjos alegres, sinos, cordões, e flautas, canções de Natal honram a euforia e a magia da temporada. No entanto, tradicionalmente, o espírito de Natal inspirou hinos de revolução e mudança social.
A primeira canção de Natal, Cântico de Maria (também chamado de Magnificat), é um claro contraste com o comercialismo e elementos culturais existentes nas modernas músicas de Natal. Vindo da perspectiva de uma jovem mulher em uma cultura patriarcal, a música contém uma mensagem surpreendentemente radical. Em Lucas 1: 52-55, Maria encontra coragem para cantar:
[Deus] depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se de sua misericórdia, conforme prometeu aos nossos pais, para com Abraão e sua posteridade, para sempre.
Durante o primeiro século, a Palestina era governada por Roma e sujeita às leis injustas de um império estrangeiro. O povo judeu foi fortemente taxado para financiar o exército romano, a construção de projetos, e manter a Pax Romana. As pressões econômicas sobre as comunidades camponesas causaram acumulação de dívida, contrato de servidão como forma de escravidão por dívida, e o confisco de terras como pagamento. Isso muitas vezes levou à destruição das unidades familiares e um ambiente cultural falido.
O Cântico de Maria representa o grito de um povo dominado desejoso de exercer a autodeterminação e ser libertado dos encargos de domínio estrangeiro. Ela professa um sentimento de esperança de que seu filho por nascer derrube o regime opressivo e liberte o povo judeu. A primeira canção de Natal é um hino de ação de graças e amor por um Deus que promete libertar os oprimidos e garantir a justiça para todas as pessoas.
A mensagem original de liberdade da opressão e de justiça, do Natal, é ainda expressa na canção popular “O Holy Night”. A canção, escrita em 1855 pelo ministro da American Unitarian, John Sullivan Dwight, é baseada em um poema francês Minuit, chrétiens, composta por Placide Cappeau. Mantendo-se fiel à mensagem encontrada no Magnificat: “O Holy Night” apresenta de maneira proeminente os temas de emancipação e libertação:
Verdadeiramente Ele nos ensinou a amar uns aos outros; Sua lei é o amor e Seu evangelho é a paz. As prisões Ele deve quebrar para o escravo que é nosso irmão; E em seu nome toda opressão cessará. Doces hinos de alegria em coro grato entoaremos, Com todo o nosso coração, louvaremos Seu santo nome. Cristo é o Senhor! Louvaremos Seu nome para sempre, Seu poder e glória eternamente proclamaremos. Seu poder e glória eternamente proclamaremos.
O poema original em francês é ainda mais explícito em sua mensagem antiescravidão e por liberdade:
O Redentor tem superado todos os obstáculos: A terra é livre, e o Céu se abriu. Ele vê um irmão onde havia apenas um escravo, o amor une aqueles que o ferro havia acorrentado. Quem vai falar-lhe da nossa gratidão, Por todos nós, Ele nasce, Ele sofre e morre. Levanta-te, povo! Cante a sua libertação, Natal, cante o Redentor, Natal, Natal, cante o Redentor!
A versão em inglês foi escrita em 1855, seis anos antes de irromper a Guerra Civil, oito anos antes da Proclamação da Emancipação, e dez anos antes da aprovação da décima terceira emenda à Constituição, que aboliu a escravidão nos Estados Unidos. À luz do contexto sócio-político em que “O Holy Night” foi escrita, torna-se claro que John Sullivan Dwight usou a plataforma musical para professar um argumento cristão contra a escravidão. Ligando o movimento anti-escravidão com a mensagem anti-romana de Maria, Dwight oferece uma canção de resistência política e protesto. Através de “O Holy Night“, o nascimento de Jesus continua simbolizando a promessa de liberdade.
Mais tarde, em 1967, Stevie Wonder lançou “Someday at Christmas“, que, ao mesmo tempo, serve como uma canção de Natal e um apelo pela paz e igualdade perante a lei. Ele visualizou um futuro positivo no qual o mundo estará cheio de paz e igualdade, e sem pobreza, ódio e fome:
Num caloroso dezembro nossos corações verão; Um mundo em que os homens são livres. Algum dia, no Natal, não haverá guerra. Quando tivermos aprendido a finalidade do Natal; Quando descobrirmos que a vida realmente vale à pena, haverá paz na Terra. Algum dia, todos os nossos sonhos virão a ser. Algum dia, em um mundo onde os homens são livres. Talvez não no meu nem no seu tempo; Mas algum dia na época do Natal.
“Someday at Christmas” foi uma canção de protesto, escrita contra a Guerra do Vietnã e em solidariedade com o movimento dos direitos civis. Em uma época em que a luta pela liberdade definiu uma geração, “Someday at Christmas” é um apelo pela liberdade e um grito de guerra dos manifestantes anti-guerra.
Stevie Wonder expõe o paradoxo de um Natal alegre num momento em que a igualdade de direitos foi negada com base na raça e soldados estavam morrendo nos campos de batalha do Vietnã. Ele defende que a verdadeira mensagem do Natal é que companheirismo, compaixão e amor devem ser dedicados a todas as pessoas.
Quando o nascimento de Jesus foi anunciado a Maria, a comunidade judaica sentou-se calmamente, com esperança de mudança e orando a YHWH por libertação. Durante o movimento anti-escravidão e os movimentos anti-guerra e de direitos civis da década de 1960, as pessoas não mais esperavam passivamente pela liberdade. Compositores e artistas musicais tiveram tanto a audácia de escrever uma música ou ficar em um palco, como de falar abertamente contra a injustiça. Canções de Natal são muito mais do que uma sagrada e alegre celebração, elas fornecem a visão e energia que geram a ação coletiva e a transformação social. A mensagem da música é muito mais do que um simples Feliz Natal.
[hr height=”30″ style=”default” line=”default” themecolor=”1″]
Barbara Sostaita foi coordenador de campus do Students For Liberty.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, basta submeter o seu artigo neste formulário: http://studentsforliberty.org/blog/Enviar