“O Expresso do Amanhã” ou de hoje?

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“O Expresso do Amanhã” ou de hoje?

Lucas Oleiro | 3 de dezembro, 2017

E se seguíssemos o que é ditado pela ciência, indiscriminadamente, sem contestar fundamentos éticos e lógicos?

Esta é uma das ideias presentes no filme O Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013, Coréia do Sul, República Tcheca, Estados Unidos e França). Baseado no premiado HQ francês, “O Perfuraneve”, a história é uma distopia –  aquele gênero literário que explora a possibilidade de uma sociedade com um governo extremamente interventor, violento e totalitário, que abusa do domínio de cidadãos, cerceando liberdades. Por favor, tente não pensar no Brasil nos dias hoje, distopia é um estilo de narrativa.

Nesta versão da história dirigida por Joon Ho Bong, lideranças e representantes dos países, motivados por temores cada vez maiores do “aquecimento global”, criam o gás CW7, para resfriar o planeta. Dispersado simultaneamente na estratosfera de todos os continentes, o resultado ultrapassa expectativas, acelerando a Terra a uma nova Era Glacial, congelando sua superfície e acabando com toda a vida.

Bem, toda não. Em 2031 resta apenas um pequeno grupo de pessoas, confinado em um trem fantástico, de tecnologia disruptiva, que é capaz de cruzar a Terra por um trópico, utilizando uma fonte de energia infinita.

Com uma extrema condição de escassez, os responsáveis pelo Snowpiercer ou “Arca Expressa”, usam a força para submeter os passageiros ao domínio centralizado, com manipulação e controle muito comuns a doutrinas sociais ‘científicas’ que presumem planificar seres humanos como entes iguais, de comportamento prevísivel. Ao ignorar a natureza singular de cada indivíduo, as pessoas não passam de um grande rebanho.

Os vagões são divididos para refletir a divisão da população em castas, de acordo com um pressuposto social (o ticket de embarque adquirido), que é imutável. A porta-voz do “Grande Wilford” (criador da “Máquina Sagrada” que salvou a humanidade) após presenciar a agressão a uma funcionária deste “Grande Líder”, pertencente a classe dominante, faz uma declaração do pressuposto de classes ao grupo menos favorecido, enquanto o agressor é punido com a amputação do braço que atirou o sapato:

  • ..
  • Isto não é um sapato.
  • Isto é desordem.
  • Isto é o caos no tamanho 44.
  • .. estão vendo?
  • Isto é a morte.
  • Nesta locomotiva que chamamos de casa, há uma coisa…que está entre os nossos corações quentes e o frio congelante.
  • Roupas, escudos?
  • Não, a ordem.
  • A ordem é a barreira que repele a morte congelante.
  • Todos nós, neste trem da vida, permanecemos em nossos lugares, cada um de nós precisamos ocupar…nossas posições específicas, predestinadas.

E ainda reforça atribuições divinas, para veneração metafísica de entidades… físicas.

  • No início tudo era prescrito pela sua passagem.
  • Primeira classe e econômica, para aproveitadores como vocês.
  • A ordem eterna é prescrita pela Máquina Sagrada.
  • Todas as coisas fluem a partir da Máquina Sagrada.
  • Todas as coisas em seus lugares.
  • Todos os passageiros em seus setores.
  • Toda água fluindo, tudo aumentando o calor…pagam homenagem também à Máquina Sagrada.
  • Em suas próprias partículas…nas posições predeterminadas.
  • E assim é.

Como na citação de Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”, mais uma revolução dos menos favorecidos se instaura no trem. Mesmo que o principal objetivo desta revolução seja dominar a locomotiva, o final desta película é surpreendente, assim como é a natureza humana em qualquer época.

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Lucas Oleiro participou do Programa de Coordenadores do Students For Liberty.

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