Como se discute política no Brasil?
Arhtur Miranda | 5 de maio, 2015
Há uma coisa que eu venho percebendo em relação à discussão política no Brasil (entre esquerda e direita) e é bastante alarmante: a maioria das pessoas olham para o assunto a ser discutido, se posicionam conforme a ideologia e aí sim buscam argumentos para tentar defender o posicionamento.
O problema disso?
O posicionamento prévio sempre será tido como “certo”, e isso é logicamente impossível, a não ser que haja uma relativização do que é “certo”.
Tenho ciência de que muitas coisas da nossa vida não podem ser simplesmente taxadas dentro da dicotomia certo x errado, mas há coisas que são – geralmente a maioria das coisas que se debate em relação à política – e estas que são devem ser discutidas com maior cautela.
Facilmente se é possível pegar alguns exemplos de tais ocorrências:
Sabe-se que a direita é a contra o estatuto do desarmamento, então imagine a surpresa de alguém da direita em saber que o Partido PCO é contra o estatuto do desarmamento? (Veja aqui e aqui)
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Talvez até Reinaldo Azevedo tome um susto, pois ambos os textos do PCO dizem que é um direito do cidadão se defender, e em um de seus artigos, Azevedo afirma:
“Peguemos as afirmações sobre a posse de armas:
Este seria o primado da esquerda:
Devem ser proibida, pois ameaça a vida de outras pessoas.
Este seria o primado da direita?:
Arma legalizada deve ser um direito do cidadão para se defender”
Ora será que o PCO é de direita ou será que Reinaldo Azevedo fez uma péssima correlação entre direita e esquerda?
Nem um nem outro. A resposta é simples: o mais importante não é dizer se uma posição é de direita e de esquerda, para que, assim, a pessoa se posicione; o mais importante é buscar o posicionamento a partir de uma fundamentação coerente.
Ou podemos também falar de algo que dispensa maiores comentários: A privatização.
Claramente, a busca da privatização pode ser associada à direita. Mas o que diriam os direitistas se eu dissesse que concordo com um governador do PC do B? Provavelmente que sou esquerdista. Mas minha concordância é em relação à privatização da Fundação José Sarney.
Por fim, há algo que torna ainda mais importante sair da dicotomia direita x esquerda. O espectro político pode ser bem mais abrangente do que isso. O Diagrama de Nolan pode ser usado e daí acabaríamos por colocar a favorabilidade ao armamento e à privatização não na direita, mas no libertarianismo, o qual é favorável à liberdade tanto na economia (privatização), quanto na vida pessoal (direito ao porte de armas).
Não posso deixar de colocar aqui um caso recente, que também se dividiu, basicamente, em dois lados: o conflito entre professores e policiais na Assembleia Legislativa do Paraná na última quarta-feira (29/04/2015).
Há um lado que diz que os manifestantes estão errados e mereciam apanhar (direita), há um lado que diz que os manifestantes estão certos e não mereciam apanhar (esquerda).
Mas há também um lado que vai além, e diz que não importa se os manifestantes estão certos ou não, há um limite para a coerção estatal através da PM, observe o posicionamento:
Concordar ou não com os motivos dos professores para protestarem é completamente irrelevante frente ao que está ocorrendo. Levantar bandeiras vermelhas e tentar acompanhar uma sessão na Assembleia Legislativa, não dão aval para ferir mais de 213 pessoas e atacar profissionais da imprensa com cães
Termino aqui com a reflexão que cada pessoa deveria fazer: será que estou preocupado definitivamente com as nuances que cada caso tem? Será que observo os diversos aspectos e após o raciocínio eu me posiciono? Ou será que vejo se um posicionamento parece ser de esquerdista ou de direitista para então me posicionar?
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Arthur Miranda é Presidente do JusLiberdade. Presidente do Conselho da Comunidade do Distrito Federal. Servidor Público lotado na Consultoria Jurídica do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, prestando auxílio jurídico na área de Direito Portuário. Graduando em Direito no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).
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