Treinar nossos policiais para uma guerra vem dando muito errado
Anilton Santos | 12 de setembro de 2016
Foto por Kai Oberhäuser
Tristeza e indignação. É assim que a comunidade do Vasco da Gama e do Totó lidam com os casos de Matheus Alexandre de 14 anos e um menor de idade de 10 anos. Ambos foram encontrados por balas “perdidas” disparadas no confronto entre policiais e criminosos.
Estes não são casos isolados. O abandono que comunidades carentes sofrem conjugado ao despreparo na segurança estatal tornam recorrente este tipo de evento.Relatos em bairros como Santo Amaro, Coque, Ibura e Peixinhos dão conta desta mesma conjuntura.
Do mesmo modo, não podemos esquecer que policiais militares são cobrados para “produzirem” nas ruas. Isto é, cobra-se prisões de uma polícia que só age com flagrantes e força bruta, não com investigações e inteligência. O incentivo para a produção de mais confrontos, distante da paz social, é evidente.
Assim, ao somar tal quadro de despreparo, falta de direitos, e péssimos incentivos, o resultado não poderia ser outro: arbitrariedades e atentados contra a vida e a liberdade.
Leia também
- Greve policial: segurança estatal, o direito que falhou
- Por amor à liberdade alheia!
- A solução do governo é pior
Um vizinho de Matheus, o menino morto por policiais em Vasco da Gama, em um desabafo emocionado chegou a dizer que “não quer nenhum policial […] onde eu moro. Nenhum”. Sentença tão forte não nasce do vácuo, é fruto direto de uma realidade de abusos, arbitrariedade e violência. Ao ponto de apavorar moradores com a mera presença do braço repressor do estado, sentimento diametralmente oposto ao que as forças de segurança deveriam passar a população.
Diante de tais tragédias, sinal do total abandono e ineficiência do estado, desestruturando e desagregando famílias ao tirar vida de inocentes, não podemos nos calar! Usando as ferramentas que temos, posicionamentos (virtuais ou não) e cobranças serão feitas até que todos recobrem as liberdades de ir e vir para casa tranquilamente, sem medo, de bandidos ou da polícia.
Assim, tais problemáticas podem começar a caminha para o fim com medidas que estão longe de utopia, e envolvem, sobretudo, o aprimoramento do trabalho das forças policiais, e dificilmente encontrariam oposição até mesmo naqueles que acreditam que relativizar os direitos humanos são uma solução para o crime (não são!),
Como:
- Retirar os incentivos absurdos de resultado por operação: eles funcionam tanto quanto os incentivos artificiais na antiga União Soviética quando os operários produziam parafusos gigantes em resposta a meta de produzir X toneladas do produto.
- Aprimoramento no curso de formação da categoria: apesar do curso ser muito extenso o resultado é praticamente nulo. Nota-se isso com as ações dos policiais principalmente nas periferias onde tem atitudes coercitivas e anti-libertarias chegando, em alguns casos, até a óbitos. O policial deve ser educado para pacificar e não catalisar conflitos, entender técnicas para desescalar conflitos e não prolongá-los. O treinamento do policial não deve ensinar a enxergar o povo como um exército estrangeiro vê a população local, e sim fazê-lo compreender que está lidando com sua comunidade.
- Combater o profiling: indivíduos têm o direito de andar com quaisquer trajes, estilos, ou rebolados. Parar alguém apenas porque se acha que talvez ele seja um criminoso não é apenas ilegal como imoral. Ademais, a prática gera animosidade desnecessária entre a polícia e a comunidade, e os leva a perder muito tempo importunando inocentes, em vez de notarem os verdadeiros criminosos.
- Mais inteligência policial: A atual divisão das forças policiais impede os policiais militares de conduzirem investigações formais, isto é, a polícia que mais realiza prisões só pode agir em flagrante e com violência, sendo proibida de investigar e prevenir crimes cometidos continuamente pelos mesmos elementos.
Tais propostas somente serão resolutivas se você, leitor, agir. Tomar a ação individual de compartilhar, debater, ser um ativista, e mostrar que a liberdade está em você, e ninguém pode tirá-la! A liberdade é muito importante para a deixarmos presa.
[hr height=”30″ style=”default” line=”default” themecolor=”1″]
Anilton Santos é coordenador local do Students For Liberty Brasil (SFLB).
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] ou [email protected].