Pedro Mutzig | 09 de março de 2017 | Foto: International Students for Liberty Conference 2017
Uma análise social que resulte em conclusões condizentes com a realidade requer extenso tempo de abstração e empiria. Dessa maneira, há maiores chances de o observador ter se livrado das suas pré concepções enquanto analisa o contexto no qual se envolve. Feitas tais considerações, julgo que a minha estadia nos Estados Unidos foi suficiente para o início de um trabalho que tenha como máxima o fato de que uma sociedade civil organizada é premissa para liberdade.
Tal máxima surge da observação de que os cidadãos norte-americanos se organizam de incontáveis e diversas maneiras para incontáveis e diversas finalidades. Por meio de associações voluntários, os norte-americanos perceberam que possuem maior eficiência em atuar de maneira independente ou fazer reivindicações sociais que julgam pertinentes. Vale ressaltar que não me limito às organizações de vieses político e econômico – os think tanks, mas também outras com os mais variados objetivos. Exemplo de tais é a Atlanta Audubon Society, uma organização voltada somente para a conservação dos pássaros do estado da Georgia, onde atualmente vivo.
Mais especificamente no caso de políticas públicas, os think-tanks – organizações que atuam na disseminação de ideologias em assuntos estratégicos, visando influenciar as decisões políticas e opinião pública – executam um papel fundamental. Dentre elas, a apresentação de pesquisas científicas com informações cruciais aos legisladores para que estes tomem decisões políticas bem fundamentadas, além da democratização do acesso à informações muitas vezes restritas aos meios acadêmico e político.
Duas ocasiões vividas por mim que mostram a organização da sociedade civil norte-americana foram o torneio do Instituto Nacional de Debates de Homeschoolers e a Conferência Internacional do Students for Liberty. Na primeira ocasião, tive a oportunidade de ser juiz de debates entre duplas de homeschoolers em um torneio organizado por pais de todo os Estados Unidos, que abdicam de grande parte do seu tempo para propor uma educação adequada e condizente aos seus valores para os seus filhos. Nesse dia, pude testemunhar jovens de treze a dezesseis anos com surpreendente capacidade de oratória, retórica e conhecimento de mundo.
Na segunda ocasião, pude passar um final de semana em Washington, D.C, e ver a reunião de dezenas de organizações liberais em uma conferência para mais de mil pessoas, onde diversas palestras, debates e encontros sociais foram realizados. O evento, realizado anualmente, é uma forma do movimento liberal se tornar cada vez mais conectado e novas pessoas serem atraídas pelas ideias da liberdade. Além disso, é claro, pude perceber o alto nível de organização do evento, o que colaborou para a sua singular eficiência.
E há um ponto comum e muito importante entre os eventos: ambos foram realizados sem a ajuda do governo, partindo da associação voluntária de cidadãos conscientes da importância do papel que a sociedade civil pode desempenhar no seu próprio rumo. Consciência que é fruto de uma tradição histórica da independência dos indivíduos em relação ao Estado, pautada na crença de que o sucesso será muito mais provável caso haja trabalho duro vindo do próprio indivíduo e dos seus pares. E que, quando esse sucesso chegar, deve haver um senso de responsabilidade voluntária de que contribuir para o sucesso de outros é uma atitude ética.
Dessa maneira, posso afirmar que ambas as pessoas que fizeram as duas ocasiões supracitadas possíveis possuem tal senso de responsabilidade voluntária. Os pais de homeschoolers percebem que, por meio da organização de debates, não somente os seus filhos serão beneficiados, mas outras crianças na mesma situação. Os membros do movimento liberal, por sua vez, veem que a liberdade é essencial para a prosperidade da sociedade e não se contentam em terem essa convicção, mas querem disseminá-las para outras pessoas.
Tendo em vista tais experiências, chego à conclusão de que a sociedade civil brasileira precisa urgentemente se organizar para combater os grupos de pressão que advocam apenas os seus interesses coletivos e egoístas em nome de um bem estar geral. Precisa urgentemente sair das amarras que o Estado brasileiro impõe por meio de uma carga tributária abusiva que rapta todo o nosso senso de responsabilidade, como se o Estado fosse responsável por todos os âmbitos das nossas vidas, desde a educação à conservação de animais silvestres.
Mais especificamente no movimento liberal, é necessário que um ecossistema de think tanks voltados para disseminar as ideias da liberdade seja criado no país – algo que já podemos ver acontecendo em casos como o da Rede Liberdade. Somente dessa forma que os nossos objetivos, principalmente de ter uma realidade mais livre e próspera, serão concretizados. Todavia, para que isso aconteça, será necessário que os liberais saiam das suas zonas de conforto e comecem a se organizar para alcançar os nossos objetivos e a realidade livre e próspera que tanto almejamos.
É, nu e cru, tomar vergonha na cara e não se limitar ao ativismo de internet e das discussões em grupos de facebook – que muitas vezes se encontram em uma total torre de marfim – e enfrentar a vida real. Deixar os memes, os jargões como “quero andar de tanque” e a soberba para iniciar um diálogo construtivo com o resto da sociedade. Caso contrário, não seremos muito diferentes da esquerda universitária e as suas bolhas nas instituições de ensino federal.
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Pedro Mutzig é coordenador local do Students for Liberty Brasil (SFLB)
Este artigo não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] ou [email protected].