6 dicas para o seu grupo liberal ter sucesso no movimento estudantil

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6 dicas para o seu grupo liberal ter sucesso no movimento estudantil

Nicolas Powidayko | 30 de novembro de 2015

Fundada em 2009, a Aliança pela Liberdade, grupo liberal formado por alunos e ex-alunos da UnB, foi no mês passado reeleita para um quarto mandato consecutivo a frente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE UnB).

O DCE da UnB, no passado uma entidade insignificante no dia-a-dia do estudante, era conhecido Brasil a fora pelas suas vergonhosas intervenções:

Nota de apoio a Hugo Chavez a protesto no STF pela liberação do terrorista italiano Cesare Battisti,sem esquecer do lamentável episódio em que os membros do DCE saíram peladões pelo campus em defesa de Geisy Arruda, uma paulistana que foi hostilizada em sua universidade por trajar um vestido curto (tudo isso enquanto a Universidade vivia um surto de criminalidade). Nada muito diferente dos DCEs de norte à sul do Brasil.

Em sua primeira vitória, em 2011, a Aliança pela Liberdade foi eleita com somente 22% dos votos válidos, sendo a diferença para o segundo colocado de apenas 188 votos. Os 22% viraram 45% em 2012, 52% em 2014 e, em 2015, a Aliança foi reeleita com 60% dos votos válidos. De um dos mais importantes redutos das juventudes do PT, PCdoB, PSOL e PSTU, o velho movimento estudantil da UnB padeceu.

O Juntos!, uma corrente do PSOL, chegou a importar uma liderança do Rio Grande do Sul para reverter a situação. Sem sucesso. Podem argumentar que a Aliança teve sorte em 2011, afinal as chapas de esquerda estavam fragmentadas e os militantes do PT que comandavam o DCE à época se revezavam entre a UnB e as boquinhas no Governo do Distrito Federal. Sorte, no entanto, não explica os resultados das últimas eleições.

O que explica então?

Otimista que o modelo da Aliança pela Liberdade pode ser replicado em outras Universidades, públicas e particulares, e ciente de que uma primavera da liberdade contribuirá para que as nossas instituições de ensino superior se libertem dos grilhões que as prendem à mediocridade, eu elenco abaixo 6 fatores que em meu entendimento explicam o sucesso da Aliança.

Se reproduzidas de forma crítica, atentando às características e conjunturas locais, essas lições certamente ajudarão o seu grupo liberal prosperar no movimento estudantil.

1. O trabalho da Aliança reflete princípios e valores

A Aliança tem um propósito bem definido: construir uma Universidade de Brasília mais livre, plural, eficiente e de excelência.

A UnB é nossa causa e a nossa casa. A Aliança é grupo de e para os estudantes no qual todos os seus membros acreditam em um conjunto de valores e princípios, dentre eles a supremacia dos direitos e liberdades individuais e o Estado Democrático de Direito.

O grupo acredita que não são os militantes do Diretório ou os burocratas da Reitoria que vão mudar o Brasil, mas os agentes transformadores que a UnB forma. E é justamente por acreditar no potencial desses estudantes que a Aliança trabalha por uma UnB melhor. Para eles.

Ter a clareza do porquê do grupo existir faz com que o trabalho da Aliança reflita, com naturalidade, os seus princípios e valores. Quando o grupo debate algum tema, mais do que “será que a gente vai ganhar ou perder com isso?”, o grupo se pergunta “será que o estudante vai se surpreender com essa decisão? Será que essa medida reflete o que a Aliança acredita?”. Com isso, suas ações são previsíveis aos olhos do estudante, que se identifica nesses princípios e enxerga na Aliança um grupo confiável e com motivações honestas.

2. A Aliança traz resultados

Mais do que debater, falar, discutir, a Aliança coloca os princípios liberais em ação. E com eficiência. Os resultados são palpáveis no dia-a-dia da Universidade. De postes de luz, sala de estudos 24h, posto fixo de agências de estágio, até a presença da PM no campus, os estudantes enxergam o trabalho da Aliança em seu cotidiano.

Resultado ganha voto, o que é bom, mas não é o que motiva o trabalho da Aliança. Por isso, sendo ou não gestão do DCE, a Aliança pensa a si mesma de uma maneira simples e objetiva: um grupo que resolve os problemas que a Reitoria e o governo local não conseguem resolver sozinhos.

Certos problemas são estruturais, muitos decorrentes da legislação federal, e a Aliança já iniciou internamente o debate em torno de uma agenda de longo prazo, mas além de filosofar,é essencial ter foco no que se consegue conquistar no curto prazo.

3. A Aliança é apartidária. De verdade.

A Aliança não teria conseguido trazer a PM e o DFTrans para o campus, viabilizado uma emenda para a instalação de postes de luz nos arredores da UnB e aprovado na Câmara Legislativa um projeto de lei que altera o passe livre estudantil se o grupo não fosse de fato apartidário.

Desde a fundação da Aliança, a oposição sempre nos rotularam de conservadores, coxinhas, juventude do DEM e do PSDB, lacaios do imperialismo e do FMI, etc. E a Aliança sempre respondeu esclarecendo suas regras internas de filiação partidária: é admitido o ingresso de alunos filiados a partidos políticos, mas estes são vetados de participar da gestão do DCE ou de assumir posições de lideranças dentro da Aliança (presidência, vice e representação discente nos conselhos superiores da instituição) com o objetivo de evitar possível conflito de interesse.

Com o tempo, nossas ações falaram mais alto do que qualquer discurso. Depois do grupo ter trabalhado com políticos de mais de 12 partidos diferentes, o estudante da UnB está hoje convencido do caráter apartidário mas não apolítico da Aliança.

Desse modo, a reputação do grupo não foi afetada nem mesmo quando um ex-Coordenador Geral deixou a gestão do DCE para se candidatar a Deputado Distrital. A Aliança tratou o assunto com tamanha clareza e honestidade [1] (como deve ser!), que os ataques da oposição não tiveram efeito prático. Nenhum grupo deve colocar limite para o futuro de seus membros. O que se pode fazer é garantir no presente que o grupo não esteja sendo usado como representante de interesse de terceiros.

É importante deixar claro que um grupo controlado pela juventude de um partido político travestido de liberal e apartidário dificilmente vai se manter a longo-prazo. Pode até ganhar uma ou duas eleições, mas quando os interesses do partido e da instituição se sobrepuserem, as ações vão falar mais alto que o discurso. E os alunos não são bobos e percebem isso.

4. Aliança tem regras claras

A Aliança pela Liberdade é mais do que um grupo, um movimento ou uma chapa. É uma instituição com regras claras, estatuto, pesos e contra pesos. Existem normas quanto a ingresso, expulsão, filiação partidária, deveres e direitos e procedimentos que estimulam a participação e coíbem a inação.

O presidente e vice[2]tem mandato finito de um ano e existem limites para o seu poder, sendo todas as decisões submetidas ao grupo em suas assembleias gerais.

O elevado grau de institucionalização não apenas tem assegurado o apartidarismo, mas dificultado que o grupo vire o projeto pessoal de alguém.

Regras claras criam um ambiente propício ao trabalho em equipe e um clima de que a Aliança é muito maior do que os seus indivíduos. Consequentemente, cada vez mais lideranças de curso querem entrar na Aliança, os membros mais novos se sentem estimulados a trabalhar e os mais velhos, a continuar ajudando mesmo depois de formados.

O fato do grupo ter criado esse conjunto de regras antes de se tornado gestão do Diretório facilitou o florescimento de um círculo virtuoso, mas nada impende que grupos já atuantes no movimento estudantil pausem suas atividades políticas para pensarem e se planejarem para o futuro. Consome tempo, tempo que poderia estar sendo usado para ganhar terreno, mas acreditem: lá na frente fará toda a diferença.

5. Os membros já formados continuam ajudando a Aliança

O acompanhamento contínuo por parte de membros mais velhos tem sido crucial para o fortalecimento da Aliança em várias dimensões, de resolução de conflitos à gestão do conhecimento. Hoje, esse acompanhamento é institucionalizado com a formação de um Conselho de Gerontes, ou Gerúsia, composto por membros já formados que tenham desempenhado um papel de destaque dentro da Aliança.

A Gerúsia tem impedido que erros básicos de posicionamento político sejam feitos, garantido que os valores e princípios da Aliança se mantenham vivos e refletidos nas ações do dia-a-dia e contribuído financeiramente para as atividades do grupo. Talvez mais importante, a Gerúsia tem atuado como uma força estabilizadora que mantém o grupo sereno e unido em momentos de embate interno.

Em tais momentos de conflito, a exemplo de situações em que membros saíram do grupo falando mal após perder eleição interna e em que um presidente foi convidado a se retirar da Aliança, coube aos gerontes desempenhar o papel de moderação: acalmar os ânimos, administrar egos e ambições e manter o grupo focado na missão de melhorar a UnB.

As ex-lideranças tem também contribuído para que não se perca qualidade durante o processo natural de renovação do grupo. Como todo grupo político, a Aliança atrai pessoas dos mais diversos tipos, inclusive pessoas que não sabem trabalhar em grupo e gente com problema de caráter. Não deixar o grupo caiar nas mãos de pessoas que não saberiam guiar as atividades é uma missão árdua, que gera ruídos, mas necessária.

E tão importante quando identificar sucessores, é treina-los. O acompanhamento por parte dos membros mais velhos garante que a rede de contatos e o aprendizado acumulado de como operacionalizar uma campanha, como tirar projetos do papel pela gestão do DCE ou como ser um representante discente nos Conselhos Superiores fiquem retidos dentro do grupo e sejam repassados às novas gerações. Desse modo, os novos membros não perdem tempo aprendendo do início e começam seu trabalho do ponto em que seus antecessores pararam.

6. A Aliança se comunica bem com os estudantes

Sim, se comunicar com eficiência é um pré-requisito para trabalhar com política, do Palácio do Planalto à associação de moradores do seu bairro. No caótico dia-a-dia de uma Universidade com mais de 35 mil alunos, poucos acompanham o trabalho que o DCE desempenha, o que demanda uma estratégia de comunicação rápida e precisa.

A Aliança tem conseguido divulgar avisos e novidades com mais velocidade que a própria agência de comunicação da UnB, o que faz com que os estudantes tenham o hábito de seguir a página do DCE no facebook como quem acompanha os portais de notícia. Além disso, a Aliança nutre uma mentalidade de dono quanto aos problemas da UnB e comunica rapidamente aos estudantes o que aconteceu e quais atitudes o grupo vai fazer a respeito.

Não existe essa de “é responsabilidade da Reitoria, da Faculdade ou do Governo”. Impactou no dia-a-dia dos alunos, é responsabilidade da Aliança correr atrás e comunicar à comunidade o que está sendo feito. Em uma Universidade em que o corpo discente acha que o Governo, a Reitoria e os Departamentos não dão a mínima para eles, essa mentalidade de dono faz com que a Aliança seja vista como alguém que de fato se importa com os estudantes.

Uma estratégia de comunicação alinhada aos nossos princípios e valores tem sido também um diferencial. Como mencionado, a Aliança não vende publicamente apenas o que ela faz, mas quem ela é e no que o grupo acredita. Isso nos tem dado coragem para debater temas conflituosos e se posicionar fortemente com relação a assuntos que geram polêmica, como a presença da PM no campus e a realização de Happy Hours ilegais [3].

Muitos dizem que a Aliança se vitimiza de um modo muito eficiente, mas quando o grupo sofre ataques – seja de jornais nos associando ao DEM ou a pichações pelo campus nos chamando de racistas – o que a Aliança faz em essência (e ela faz muito bem) é mostrar como a politicagem de ofender e rotular o adversário é o oposto do ambiente plural que a Aliança almeja para a UnB [4].

A receita para que o seu grupo tenha uma estratégia de comunicação eficaz não é segredo. Basta acompanhar o dia-a-dia da Universidade, saber o que os estudantes estão dizendo e reclamando, ter curiosidade sobre os problemas da Universidade, ir atrás do que se está sendo feito e reportar avanços e entraves com certa frequência. Ser objetivo na escrita dos textos e criar uma identidade visual atraente são extras que ajudam a capturar a atenção dos leitores, mas no fim tudo se resume à seguinte questão: se você passa por um bebedouro quebrado ou escuta um grupo de alunos reclamando que o banheiro está sem papel higiênico, você ignora essas informações ou sente que esses problemas não vão ser resolvidos se você não resolve-los?

Entrar em contato com o setor responsável, cobrar agilidade e relatar o que você tem feito no Facebook, mais do que uma estratégia de comunicação, demonstra quem você é e no que você acredita.

A Aliança tem sido procurada desde 2011 para ajudar grupos liberais a prosperar em outras Universidades pelo Brasil. Na correria do dia-a-dia a Aliança não conseguiu completar essa tarefa com êxito. Embora eu esclareço que não falo pela Aliança, espero que com esse artigo nós iniciemos uma nova fase de cooperação em prol de uma primavera da liberdade. Os desafios são imensos e os entraves, inúmeros, mas o Brasil conta conosco para devolver o movimento estudantil aos estudantes e tornar nossas Universidades dignas do dinheiro que a população coloca nelas.

Encerro esclarecendo que de modo algum a Aliança pela Liberdade é um grupo sem defeitos. Ela tem. Vários. Com esse artigo, meu objetivo é refletir sobre os fatores que, a despeito das deficiências, tem balizado o seu sucesso na UnB. Contudo, deixo um alerta: uma análise crítica é necessária para replica-los em outras Universidades, sujeitas a dinâmicas e conjunturas distintas. Por fim, importante mencionar que esse artigo não reflete necessariamente a opinião da Aliança pela Liberdade.

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Notas

[1] http://tinyurl.com/nohudb3

[2] Importante esclarecer que a Aliança se organiza institucionalmente de forma autônoma da gestão do DCE. Durante o período eleitoral, a Aliança elege coordenadores de campanha responsáveis por gerenciar as atividades e ganhar a eleição.

Se eleita, a Aliança se reúne para eleger os coordenadores gerais do DCE, estes incumbidos de liderar a gestão do DCE. Com exceção dos coordenadores gerais, que precisam ser membros da Aliança, existem pessoas que são membros da gestão do DCE mas não da Aliança, e vice-e-versa. Desse modo, o papel da Aliança consiste em supervisionar o trabalho da gestão do DCE, garantindo que os princípios da Aliança estejam sendo aplicados na prática.

[3] http://tinyurl.com/pwo233whttp://tinyurl.com/q6gp5mlhttp://tinyurl.com/pk6gx4z

[4] http://tinyurl.com/oe86ljthttp://tinyurl.com/n386u6ahttp://tinyurl.com/nnypwophttp://tinyurl.com/o8ldl8qhttp://tinyurl.com/okokjew

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Nicolas Powidayko foi membro da Aliança Pela Liberdade. 

Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] e [email protected]

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