Os 100 anos da Revolução Russa levaram ao debate um enorme contraste entre o silĆŖncio dos russos e a celebração da esquerda brasileira. Houve polĆtico se licenciando do cargo para ir Ć RĆŗssia festejar e se frustrando com a ausĆŖncia de qualquer festividade. A CĆ¢mara dos Deputados, inclusive, realizou uma sessĆ£o solene por causa da data.
O pouco caso da esquerda brasileira com as vĆtimas do comunismo Ć© um fenĆ“meno curioso. Ć impossĆvel encontrar alguĆ©m que se autodenomine mais interessado com o próximo do que um esquerdista.
SĆ£o āos inteligentinhosā, como afirma o filósofo Luiz Felipe PondĆ©, detentores do monopólio das virtudes. Quem Ć© esquerdista costuma justificar a opção ideológica por āse importar com as pessoasā. PeƧa mais detalhes de porque ele estĆ” na esquerda e vocĆŖ provavelmente terĆ” como resposta algo como:
āBem, eu nĆ£o gosto da desigualdade que existe hoje. Eu me importo com o que as minorias sofrem e gostaria de mais liberdades individuais para mais pessoasā. Se vocĆŖ pegar alguĆ©m mais estudado, ele vai chamar isso de āse importar com os direitos humanosā.
Todos estes quatro pontos ā igualdade, proteção das minorias, defesa das liberdades individuais e dos Direitos Humanos ā sĆ£o muito importantes, mas significam exatamente que a esquerda deve rejeitar o comunismo.
Analisando as experiências socialistas, verifica-se que não houve nada pior para a igualdade, para as minorias, liberdades individuais e direitos humanos do que os acontecimentos na União Soviética, China, Coreia do Norte e em todas as outras experiências comunistas.
NĆ£o hĆ” nada mais desigual no mundo do que uma ditadura do proletariado. Na China, enquanto as pessoas comiam casca de Ć”rvore para nĆ£o morrer de fome, Mao Tse Tung mantinha um harĆ©m. O mesmo acontece em 2017 na Coreia do Norte. Em Cuba a famĆlia Castro e dirigentes do partido levam vidas luxuosas na mesma ilha em que o povo raciona comida hĆ” mais de 5 dĆ©cadas.
Cuba tambĆ©m Ć© um exemplo de quĆ£o terrĆvel Ć© ser uma minoria em um paĆs comunista. Embora seja uma ilha majoritariamente negra, eles quase nĆ£o aparecem na composição do governo cubano, alĆ©m de serem minoria entre os professores universitĆ”rios.
Ser gay na ilha comandada por Fidel Castro durante décadas significou ir para campos de concentração.
Em 1971, homossexuais foram proibidos de ocupar cargos públicos; a sodomia constou no Código Penal Cubano até 1979, e beijos homossexuais eram punidos com cadeia por atentado ao pudor até 1997. O mesmo aconteceu na União Soviética. Entre 1934 e 1992, mais de 50 mil homossexuais foram condenados com base no art. 121 do Código Penal Soviético, em que ser gay era crime punido com trabalhos forçados até 1992.
JĆ” no que toca Ć s liberdades individuais, os regimes comunistas se caracterizaram justamente por suprimi-las. Cuba, atĆ© hoje, Ć© um dos poucos paĆses do mundo que pune o trĆ”fico de drogas com pena de morte.
Se, felizmente, boa parte da esquerda mundial atualmente levanta a bandeira do fim da guerra às drogas, Mao Tse Tung se orgulhava de ter eliminado a venda de ópio matando todos os vendedores.
Na China, a liberdade individual se tornou controlada ao ponto de o governo decidir quantos filhos você pode ter e, até mesmo, em que local você deve morar, haja vista os passaportes internos que impedem a população chinesa de mudar de uma cidade para outra.
Os direitos humanos foram conquistas liberais, ao passo em que nos regimes comunistas configuraram-se quadros completos de controle e violação da dignidade humana. HĆ” vĆtimas do comunismo que morreram pelo crime de cantar mĆŗsicas āocidentaisā no Camboja. Na RĆŗssia, o rock era considerado subversivo, fascista e tinha que ser contrabandeado. Diversos mĆŗsicos cubanos foram censurados pelos irmĆ£os Castro. No Comunismo, a arte nĆ£o era autĆŖntica como deve ser, mas uma mera mĆ”quina de propaganda do poder.
Atualmente todas as aulas lecionadas na Coreia do Norte sĆ£o gravadas para controlar o que Ć© transmitido aos alunos, havendo diversos temas proibidos, como falar da internet ou contar como Ć© a vida fora da penĆnsula. HĆ” uma forte correlação empĆrica entre liberdade educacional e liberdade polĆtica.
A própria apreciação do comunismo era forƧada. Alexander SoljenĆtsin sobreviveu a um campo de concentração soviĆ©tico e conta histórias escabrosas. Joseph Stalin, muito alĆ©m de conduzir as Grandes Purgas e ser o responsĆ”vel pelo genocĆdio de Holodomor, criou os aplausos forƧados.
Seu nome era anunciado nos teatros, e as pessoas aplaudiam durante dezenas de minutos, pois ninguĆ©m queria ser o primeiro a deixar de aplaudi-lo e ser considerado um traidor. O comunismo chegou ao nĆvel em que atĆ© as saudaƧƵes eram controladas por um Ćŗnico homem.
NĆ£o hĆ” nada parecido com direitos humanos nos paĆses comunistas. PrincĆpios milenares, como o direito Ć ampla defesa e ao contraditório, ao devido processo legal, habeas corpus ou um mĆnimo de dignidade aos presos eram uma miragem.
Ser preso pela polĆcia de um paĆs comunista significa ser condenado e trancafiado numa masmorra ā quando nĆ£o em um campo de concentração, como ainda hoje milhares de pessoas estĆ£o presas na Coreia do Norte.
O comunismo não trouxe igualdade, não protegeu minorias, destruiu liberdades individuais e desprezou os direitos humanos. A despeito disso, a esquerda brasileira ainda idolatra a União Soviética, Cuba e defende a atual situação da Venezuela.
Até quando insistirão em defender o legado de um desastre que resultou em tudo aquilo que eles dizem repudiar?
A esquerda precisa superar o desastre comunista ou assumir que nĆ£o estĆ” interessada em ajudar ninguĆ©m, mas apenas no poder. O grande mal do socialismo Ć© a concentração de poder, que, por sua vez, nĆ£o apenas permite, mas gera desastres humanitĆ”rios. Stalin, Mao, Fidel, Kim e todos os outros lĆderes comunistas se mantiveram no poder nĆ£o apesar de todo esse desastre, porĆ©m justamente devido a ele. Esse tipo de violação Ć dignidade e aos direitos humanos Ć© a Ćŗnica forma de tanto poder concentrado ser mantido nas mĆ£os de tĆ£o poucos.
Se a esquerda realmente se preocupa com a igualdade, minorias, liberdades individuais e direitos humanos, nĆ£o deveria lutar por mais poder do Estado, e sim por maior autonomia dos indivĆduos.
Hoje, mais do que nunca, a esquerda deve-se perguntar se quer perseguir o poder ou ajudar pessoas. No primeiro caso, que sejam comunistas. No Ćŗltimo, afastar-se e parar de apoiar o comunismo Ć© o Ćŗnico caminho.
O historiador marxista Eric Hobsbawn chegou ao ponto de se referir aos milhƵes que perderam suas vidas para o comunismo como algo menor: ānĆ£o se faz omelete sem quebrar alguns ovosā. StĆ”lin endossava: āum homicĆdio Ć© trĆ”gico, milhƵes sĆ£o apenas nĆŗmerosā. IndivĆduos nĆ£o sĆ£o nem ovos, tampouco nĆŗmeros; indivĆduos sĆ£o indivĆduos, e, apesar do discurso e do monopólio das virtudes, ao celebrar o comunismo, a esquerda demonstra nĆ£o se preocupar verdadeiramente com eles.
Ivanildo Santos Terceiro Ʃ Gerente de ComunicaƧƵes do Students For Liberty Brasil (SFLB).
Luan Sperandio Ć© alumni do SFLB e Editor-chefe da Apex Partners, escreve para Gazeta do Povo, Gazeta ES e Instituto Liberal.
Este artigo nĆ£o necessariamente representa a opiniĆ£o do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussƵes sobre a liberdade, representando uma mirĆade de opiniƵes. Se vocĆŖ Ć© um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].