Cecilia Lopes | 29 de dezembro, 2017
Não há quem negue a relevância histórica do feminismo no avanço dos direitos individuais básicos. Há pelo menos três séculos, inúmeras mulheres – muitas delas liberais – sacrificaram suas reputações e muitas vezes suas vidas para que hoje tivéssemos uma sociedade mais livre.
No entanto, é difícil não discordar dos rumos que o feminismo moderno vem tomando. Majoritariamente coletivista, ele se volta contra o modelo que melhor permitiu a emancipação feminina – o sistema de mercado – e não raro algumas de suas vertentes pregam o ódio aos homens e sua exclusão do debate.
Por essas razões, muitas pessoas que também defendem a emancipação das mulheres preferem não apoiar a causa feminista, dissipando forças contra o sexismo reproduzido pelo estado e pela sociedade.
Mas há também quem queira retomar as raízes individualistas do feminismo de outrora, defendendo a liberdade de escolha das mulheres e o fim da opressão de gênero por vias não-estatais – as feministas libertárias.
Segundo a economista norte-americana Deidre McCloskey, “Ser uma feminista de livre mercado significa simplesmente que você não acha que tratar as mulheres como um ser humano (e tratar os homens da mesma forma) é necessariamente um projeto anti-capitalista.”
Em linhas gerais, podemos definir o feminismo libertário como um resgate dos valores de vida, liberdade e propriedade que nortearam as primeiras feministas, e sua reinterpretação a fim de sanar o sexismo na sociedade moderna.
O aspecto diferencial entre o feminismo libertário e as demais vertentes é a desconfiança no estado. As feministas individualistas interpretam o sexismo como sendo um problema cultural, de forma que a canetada de um burocrata pouco ou nada resolverá do real problema.
Leis que tentam proibir cantadas de rua, pornografia e prostituição, além de demonstrarem um claro acinte às liberdades individuais, são ineficazes. As propostas do feminismo libertário sempre perpassam a esfera individual, como a criação de organizações de apoio às mulheres, campanhas de conscientização, boicote e ativismo diário.
O sexismo sem dúvidas existe e todos, em especial as mulheres, são impactados por ele. É preciso defender junto a uma sociedade livre valores que cultivem a autonomia individual e o respeito ao próximo.
Nesse contexto, é notável a necessidade de que indivíduos – homens e mulheres – unam forças para erradicar aspectos culturais que oprimem, o que também inclui lutar por menos intervenção estatal na vida das pessoas, visto que foi esta a instituição que perpetuou o machismo ao longo dos séculos.
Defender o feminismo libertário significa trabalhar individual e coletivamente por uma sociedade mais justa na qual ninguém seja vítima de ódio e agressão pela ideia coletivista de que algumas pessoas são inferiores por serem mulheres; é mostrar que a luta por dignidade e respeito não é monopólio da esquerda e, principalmente, lutar para que todas as mulheres possuam as ferramentas sociais para viver e empreender da maneira que desejarem, sem privilégios e sem vulnerabilidade.
Olympe de Gourges: considerada a primeira feminista do mundo, Olympe foi uma dramaturga, abolicionista e ferrenha individualista que, durante a Revolução Francesa, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã, em resposta ao documento com semelhante nome que segregava as mulheres da vida política. Por conta disso, foi guilhotinada.
Mary Wollstonecraft: também considerada pioneira no movimento feminista, Mary redigiu a obra Reivindicação dos Direitos da Mulher, alegando que mulheres não eram intelectualmente inferiores aos homens e que possuíam total capacidade de se autogerir sem a intervenção de familiares e do estado.
John Stuart Mill e Harriet Taylor: que Mill foi um grande defensor de uma sociedade livre e apoiador do feminismo – tendo publicado a obra A Sujeição das Mulheres – muita gente sabe. Pouco conhecido é o trabalho de sua esposa, sufragista, que além de ter escrito a obra Essays On Sexual Equality, muito influenciou a luta por igualdade de direitos em seu contexto histórico, apresentando um discurso individualista e liberal.
Wendy McElroy: Wendy é professora do Mises Institute e escreve artigos semanais para a Fox News; concentra seu ativismo na defesa das profissionais do sexo, muitas vezes menosprezadas no ambiente feminista. Sua principal obra é Freedom, Feminism and State.
Joan Kennedy Taylor: Grande figura do feminismo libertário, Joan foi amiga e aluna de Ayn Rand, além de membro do Libertarian Party [Partido Libertário] norte-americano. Foi jornalista e editora, fundando uma influente revista objetivista chamada Persuasion, endossada por Ayn Rand. Publicou o livro Reclaiming the mainstream: Individualist feminism rediscovered.
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Cecilia Lopes é Coordenadora Local do Students For Liberty Brasil (SFLB).
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