Arthur do Val: “a culpa das coisas ruins que aconteceram no Brasil também é de quem se omitiu”

Luan Sperandio | 09 de outubro, 2017

Arthur do Val, criador do Canal Mamãe, Falei, é um youtuber liberal que ficou conhecido após entrevistar manifestantes e demonstrar que grupos de pressão costumam saber muito pouco sobre as causas que defendem.

Com mais de 750 mil inscritos, é um dos maiores divulgadores das ideias da liberdade nas redes sociais. Ele estará na Libertycon em um painel com Raphäel Lima do canal Ideias Radicais.. Nesta entrevista, ele fala mas sobre sua carreira e seus planos futuros para a política.

SFLB: Ao explicar a origem do canal você tem defendido a importância da narrativa e da forma como você divulga as ideias. Poderia explicar melhor isso aos leitores?

AV: A origem do canal foi a indignação com as coisas. Sou empresário e vi que o Brasil é uma b*, cheio de coisas que atrapalham o empreendedor. Então resolvi criar um canal no Youtube e falar isso para as pessoas. O problema foi que o mundo inteiro teve essa mesma ideia e ninguém me dava ouvidos. Isso até o dia em que eu resolvi ir a uma manifestação e descobri uma coisa que, na verdade, as pessoas já sabem: muito mais importante do que o conteúdo que você quer passar é a forma como você vai passar esse conteúdo.

Então, basicamente, eu comecei a transmitir a mesma coisa que eu falava para a câmara, mas em campo, no meio dos esquerdistas. Isso mostra como a narrativa é importante, a guerra de narrativa passa pela forma como você vai passar um conteúdo – no meu caso, indo para a rua, deu muito mais certo.

SFLB: Quais suas principais influências intelectuais?

AV: Não sou da área econômica, sou engenheiro químico, gosto de ciências. Eu admiro quem é da ciências, Stephen Hawking e Richard Dawkins. Mas, em termos econômicos e políticos, são todos autores do liberalismo. Mises não é um autor que eu gosto tanto, mas Friedman é sensacional! Hayek eu gostei, mas achei os livros dele muito complexos. Os mais conservadores como F. Bastiat e Edmund Burke, e outros autores ancaps nem tanto, mas todas essas leituras acabaram consagrando as opiniões que eu já tinha a partir de minhas experiências no setor privado. Minhas referências são mais científicas, mas no campo econômico e político e etc, eu costumo dizer que a vida real foi muito mais influente para mim, pois só conheci esses autores muito mais tarde.

SFLB: Quais as principais dificuldades do seu ativismo? O medo de apanhar, as dificuldades financeiras ou o ativismo jurídico que você tem enfrentado?

AV: O medo de apanhar é quase zero. Eu não tenho problema com isso. Não fico nervoso. Sou ansioso, sempre que vou fazer vídeo eu fico extremamente ansioso, mas não por causa da ação, mas pela vontade de fazer o vídeo ficar bom, do trabalho ficar realizado. A minha principal dificuldade acaba sendo a financeira (não que eu esteja passando fome, não é isso!). O problema é que você gasta tempo e dinheiro para cuidar do canal, então acabo deixando de trabalhar na minha empresa para fazer essas coisas e essa é minha principal dificuldade. A segunda é o ativismo jurídico mesmo. Estou respondendo a quase 1 milhão de reais em processos já.

SFLB: Acredita que deveria haver algum limite à liberdade de expressão e manifestação? Como liberal, você acredita no princípio da tolerância. Qual o limite dele?

AV: Liberdade de expressão é muito simples: se você fala que é “a favor da liberdade de expressão, mas”.. esse “mas” indica que você não é a favor da liberdade de expressão. Eu sou a favor de total liberdade de expressão.

Sobre o princípio da tolerância, não tenho tanto conhecimento sobre ele, mas basicamente eu acredito que todo mundo tem o direito de falar o que quiser, independentemente dos absurdos que quiserem. Não significa que não deva haver o direito de resposta quando alguém lhe xinga numa reportagem, por exemplo – mas ninguém jamais deve ser censurado. Não se deve mexer jamais na Liberdade de expressão.

SFLB: Você pretende ingressar na política em breve e uma forma de financiamento dos partidos é o fundo partidário. Há liberais que rejeitam a utilização do fundo por ser proveniente de dinheiro público. Qual seu posicionamento sobre?

AV: Sou contra e acho ridículo o financiamento partidário. Nenhum tipo de financiamento público [para campanha] deveria existir, mas não acho que a estratégia do Partido Novo seja a melhor de todas (abrir mão do fundo partidário). Costumo comparar com o caso de você estar em uma briga de gladiadores, mas é um pacifista, sendo totalmente contra o uso de armas.

Na hora da briga você não deve abrir mão da arma, pois se você for “na mão”, apanhará. Você deve pegar a arma, usar e vencer a luta. Em respeito a seus ideais, use as armas para ir contra o próprio sistema. O fundo partidário deveria ser utilizado a favor de pessoas que desejam concorrer eleitoralmente para acabarmos com ele em 2019.

SFLB: O que você diria para os muitos libertários que não acreditam que o voto faça alguma diferença na política?

AV: O recado que dou, junto com várias outras pessoas, é o seguinte: a culpa das coisas ruins que acontecem num país não é somente culpa das pessoas más, mas sim também das pessoas boas que se omitiram. Se há uma galera que adora as pessoas do bem que não votam, é justamente a galera que quer acumular poder. Te garanto que Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha adoram quando essas pessoas não vão votar, pois sobra mais espaço para a massa de manobra deles fazer o papel que eles tem na urna.

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Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].

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