Um senhor não muito alto, calvo e cuja as gravatas eram impossíveis de não se notar, mas que além de um empresário de sucesso e engenheiro renomado internacionalmente, foi também um dos maiores – senão o maior- ativista liberal que o Brasil já teve. Talvez você conheça Henry Maksoud pelo luxuoso hotel que leva seu nome, ou talvez porque foi no palco do Maksoud Plaza onde grandes cantores como Budd Guy, Tom Jobim e ninguém menos que Frank Sinatra fizeram suas apresentações.
Os amantes da boa música que me perdoem, mas vou abordar outras contribuições, que considero até mais relevantes do que essas, de Maksoud ao nosso país.
Henry Maksoud foi responsável por trazer o grande Friedrich August von Hayek mais de uma vez ao Brasil, onde organizou diversas palestras. Uma delas inclusive virou um livro: Hayek na UNB. Ele também foi responsável pela tradução das obras de Hayek: “Fundamentos da Liberdade” e “Arrogância Fatal – Erros do Socialismo”.
Maksoud ainda nos agraciou com algumas obras de sua autoria como o livro “Ensaios sobre a Liberdade” e “Demarquia, um Novo Regime Político, e Outras Idéias”.
Tais feitos já seriam suficientes para colocá-lo entre os grandes liberais brasileiros, mas felizmente Maksoud era um apaixonado por tudo o que fazia e fez muito mais pelas ideias de liberdade.
Empresário do setor da construção civil, decidiu investir também em setores como a computação e hotelaria. Maksoud era um empreendedor nato e foi graças ao seu sucesso que ele pode realizar o seu investimento mais fascinante e surpreendente: comprar a Revista Visão, um meio de comunicação tradicional da época, e transformar o editorial da revista em um editorial liberal. O ano era 1974, início do Governo Geisel, plena ditadura militar.
“Sou um prisioneiro. Vivo prisioneiro de um Estado, igual a um clube ao qual sou filiado compulsoriamente. Eu me revolto contra o Estado, mas eles me punem. ”- Henry Maksoud, Folha de S. Paulo, 24 de dezembro de 2007
Armado de bons argumentos e munido de coragem, Maksoud desafiava a ditadura promovendo as ideias da liberdade. Com José Ítalo Stelle em seu auxílio na revista, pôde traduzir as obras de Hayek e começar a ousada empreitada de criticar o estado e o seu intervencionismo, justo no auge do autoritarismo.
O governo militar já começava a demonstrar instabilidade e havia sinais de crise após o “milagre econômico” dos anos anteriores da ditadura. “Era época de começar a redemocratizar o Brasil”, dizia Geisel em seus discursos que tentavam ser brandos, para amenizar a tensão no país. O pai da “Distensão lenta, gradual e segura” revogou o Ato Institucional Número 5, que dava amplos poderes ao governo e instaurava a censura. Mas a revogação do AI-5 não impediu que o governo continuasse a interferir nos veículos de comunicação, prova disso foi o impedimento feito a Henry Maksoud, proibindo-o de escrever em sua própria revista por não possuir o diploma de jornalista. Não suficiente, o governo militar ainda boicotou a Revista Visão, não veiculando nenhum anúncio nela e “incentivando” demais interessados a também não anunciarem na revista, que ainda assim insistia em divulgar gráficos inflacionários semanais que culpavam o gasto descontrolado do governo pelos maus resultados econômicos do país.
Vencida a ditadura, permanece o intervencionismo, e com ele as críticas de Maksoud.
Durante a Constituinte de 88, criticou o partidarismo com que a nova constituição estava sendo elaborada, e redigiu ele mesmo uma proposta de Constituição Federal baseada nos princípios Hayekianos – um governo onde o império da lei se fizesse presente, não o império de homens ou de partidos. Infelizmente não foi ouvido como deveria e assim foi concebida a aberração de 88, uma constituição federal que não é sólida e que dá enormes brechas para a intervenção do estado em nossas vidas.
Nesse mesmo período, Henry Maksoud decidiu massificar ainda mais as ideias liberais e iniciou outra empreitada apaixonada: um programa de TV no estilo talk show, financiado por ele próprio, onde poderia trazer temas atuais e debater com figuras públicas, como políticos e especialistas. O programa Henry Maksoud e Você foi exibido na TV Bandeirantes no ano de 1988 e foi, sem dúvidas, um marco na televisão brasileira. Com um conteúdo de altíssimo nível o talk show de Maksoud recebeu convidados importantes como o jurista Ives Gandra Filho e José Serra, que debateram a Fúria Tributária na Constituição.
Mas infelizmente a revista visão foi vendida no início dos anos 90, pois começava a apresentar problemas financeiros, e o talk show teve o seu fim após 171 programas. Ainda assim Maksoud continuou a ser referência pelas suas opiniões e seu intelecto, bem como pelo seu legado. Um ótimo exemplo foi a entrevista que deu para a Folha de São Paulo em 2007, onde fez críticas ao governo Lula. Perguntado qual havia sido o erro de Lula, ele responde com uma sinceridade que somente um anarquista poderia ter – “Comprou só um avião. Ele deveria ter comprado uns 15 aviões e colocado o governo o tempo todo viajando. (…) Aí não teríamos governo. ”
É difícil imaginar alguém tão engajado na defesa dos ideais libertários como Henry Maksoud foi. Num cenário catastrófico de completo autoritarismo, ele surgiu como uma oposição, não político-partidária, mas de ideias repletas de coerência, ousadia e paixão.
Completaram-se três anos desde que a fina flor do liberalismo brasileiro se foi, mas a beleza de suas ideias está mais viva do que nunca, e inspiram novos floresceres num jardim que está cada vez mais livre.
Nathan Reginaldo é uma liderança do Students For Liberty Brasil (SFLB).
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] e [email protected]